O Yoga, enquanto prática e ciência, espalhou-se pelo mundo inteiro.
Hoje em dia temos milhões de pessoas a praticar – e quem não pratica, decerto já terá ouvido falar.
Tanto nas grandes cidades, como em lugares mais remotos – é raro, hoje em dia, encontrarmos um sítio onde não exista um letreiro com as quatro letras “YOGA”.
O Yoga no Ocidente espalhou-se sobretudo sob a forma de asana (posturas), mas também depranayama (exercícios respiratórios), mantra e meditação.
A palavra Yoga significa literalmente “União”.
União de quê? União das partes com o todo – da consciência individual com a Consciência Universal.
Para atender a esta União, o Yoga propõe o que se chama de Sadhana, ou um conjunto de princípios e práticas espirituais – os chamados 8 ramos do Yoga (escritos ou compilados por Patanjali) – que mapeiam este caminho para a Iluminação ou Samadhi.
Embora para a maioria de nós, a nossa primeira abordagem ou primeiro encontro com o Yoga seja através da sua componente mais física – o praticante atento e curioso rapidamente descobre que é, na verdade, um universo bastante mais vasto e completo.
E o Ayurveda?
O Ayurveda nasce, ou, podemos dizer, brota da filosofia e da prática de Yoga.
É a ciência da vida, da longevidade, da cura da mente e do corpo – para atender a essa autorrealização.
Ele fala-nos sobre todos os aspetos relativos à saúde do corpo e da mente: da dieta adequada a cada um, a cada momento do dia, às estações do ano e fases da vida.
Fala-nos do uso correto do intelecto, do uso correto dos sentidos, da mente, da nossa energia sexual e criativa, da relação adequada com a sociedade, com o mundo natural e com o Outro.
Dá-nos ferramentas práticas para restabelecer o equilíbrio através da rotina diária, alimentação, fitoterapia, e tratamentos – devolvendo a cada um a soberania, a responsabilidade pelo seu próprio bem-estar.
É por isso é que se diz que o Ayurveda e o Yoga são ciências irmãs – enquanto o Yoga se preocupa com a união do Eu com o Divino através da autorrealização, o Ayurveda preocupa-se com a preservação do corpo.
No período védico (c. 1500 – c. 500 BCE) perceberam que para chegar a esta a autorrealização é preciso ter uma mente calma.
Para ter uma mente calma, limpa, transparente, é preciso que o veículo dessa mente – o corpo – seja igualmente são, limpo, funcional – que respire bem, que digira e elimine bem.
Não só para o propósito da transcendência neste sentido mais espiritual (em que não queremos que o corpo seja “um empecilho”), mas porque na sociedade Védica a autorrealização requer que cada um viva o seu propósito – o seu Dharma.
Quer fosse esse Dharma ser guerreiro, professor, agricultor ou monge e viver em renúncia, sabia-se que o corpo precisa de estar são e ter vitalidade para que, através dele, possamos viver e evoluir no nosso Dharma.
É preciso, portanto, voltar a reunificar estes dois sistemas que, na sua disseminação globalizada no mundo moderno, tenderam a separar-se um do outro.
O potencial de conhecer estes dois sistemas profundamente, usando as ferramentas de ambos, permite-nos verdadeiramente experimentar essa “União” em todas as suas formas, e em todos os aspetos da nossa vida.
A todos os praticantes de Yoga, convidamo-los a investigar mais sobre a filosofia e práticas do Ayurveda. Conhecer a sua constituição e possíveis desequilíbrios permite adaptar a prática de asana e pranayama de forma a restabelecer o equilíbrio.
Por exemplo, uma pessoa de prakriti Pitta deve evitar práticas demasiado intensas e beneficia de pranayamas refrescantes como Chandra Bhedana. O praticante que adoptar a dieta adequada a si mesmo, praticar algum tipo de jejum e massagem Abhyanga com regularidade, rapidamente observará uma evolução enorme na sua prática de Yoga – tanto física como espiritual.
E a todos os amantes de Ayurveda, convidamo-los a mergulhar nos 8 Ramos do Yoga. Apenas o corpo em equilíbrio, capaz de digerir bem alimentos, impressões e emoções, e bem repousado consegue beneficiar dos aspetos mais subtis da prática de Yoga e Meditação – e começar a transformar e transcender os aspetos mais grosseiros do Ego.
Autora: Joana do Carmo, estagiária do Curso de Terapeuta de Medicina Ayurveda 2024